16 outubro 2007

A mulher e o livro

Estás na minha cama como um livro repousado em cima da minha secretária. Que história terás para me contar. Estou expectante. Olho para ti como se fosse a primeira vez que te encontro num amor à primeira vista. Nunca pude imaginar que pudesse encontrar-te assim.
Admiro o teu rosto – título de um livro, olhas-me com receio que eu fixe o olhar e me apaixone irreversivelmente por ti, se calhar já é tarde para fugires. Puxo o lençol até ao teu ombro como quem lê simplesmente o prefácio de um romance que quero viver. Antes tinha passado os dedos pelos teus lábios – qual página de rosto.
Começo a sonhar com o início de uma aventura contada no livro que está defronte de mim…
Toco suavemente nos teus ombros, já entrei na história. Sinto a textura da tua pele – qual bibliófilo descendo cada página até à sua base onde a vira lentamente. Gozo cada momento em tuas páginas. Em cada viragem de folha, emanas o aroma silvestre do gel que te cobre em cada banho – quererei ser eu um tipógrafo para poder gravar em ti cada momento a dois?
Este momento é único, estás escrita nos meus lençóis como um poema numa folha branca.
És suave, és profunda, és poema…
Chego a meio da história e estou a tocar nas tuas costas. Curioso para continuar a história, estou deliciado com o que até aqui li. Olhas-me, de soslaio, por cima do teu ombro despido.
Deslizas docemente até mim e deixas que eu te sinta. Qual livro aberto para que eu seja parte do romance.
Letras em relevo a chamarem por mim… será que estou a ler correctamente o teu olhar?
És suave, és profunda, és poema…
Num gesto apaixonado, faço os nossos corpos rimarem… roubo-te um beijo.
Sorris com este capítulo e dizes-me, em verso, palavras que me fazem sonhar…
Apaixonei-me pela tua literatura com o novo romance que me anunciaste:
“Beija-me outra vez…”

Um plano teu

Ora te aproximas, ora te afastas…
...fixo em ti toda a minha perspectiva. Quero sempre gravar em mim um instante teu. Quero poder ter comigo um fotograma do teu sorriso.
Passam os dias, nem sei qual será o filme de amanhã…
“Imagens que me passam pela retina”… o que me trarão com a nova aurora?
Mais um pouco de ti… Mais uma janela de sorriso, mais uma fotografia em movimento para que eu grave em mim…
Como te consigo ver por entre este oráculo que é a minha pequenez? Parece que consigo aproximar-me de ti com um simples toque ou quase uma simples vontade mas não te alcanço.
Se tenho uma imensa vontade, se tenho um forte querer, se te consigo guardar em memória e te revejo atentamente, por que não posso tocar-te?
Só consigo ver-te… Com mais ou menos luz só te alcanço em vista…
A ausência de luz no teu rosto prejudica a fotografia. Como posso perceber todas as formas da tua face se alguém te ensombra a tez? Quero pelo menos ver-te com clareza.
Terei sempre um pequeno raio de luz para ti: para que se perceba cada curva do teu rosto e para que se ilumine o sorriso que tens para dar.
Tenho fita para gravar e acompanhar o teu sucesso.

11 outubro 2007

"ser" amigo

O que é ser amigo? Que é nutrir amizade por alguém?
Tenho amigos. Poucos.
Tenho colegas – muitos. De trabalho, de escola, de futebol, de amigos comuns, etc.
Mas amigos, esses são poucos.
Tenho amigos que fazem tudo por mim, aqueles que dão a camisa do corpo, aqueles para quem ligo e têm sempre uma palavra para mim, aqueles que me fazem ver as coisas quando cometo um erro, aqueles que me ajudam desinteressadamente.
Também gosto de ser amigo. Gosto de ajudar, os meus amigos sabem que sim.
Que texto piegas este, mas a verdade é que tenho de o escrever.
Como se começa uma amizade? Não se sabe. As coisas vão-se revelando, depois vemos que conseguimos viver com os defeitos do nosso amigo.
Agora a questão é:
Como se acaba com uma amizade?