23 junho 2008

Capítulo IV - Primeiro contacto

Levantou-se da pedra que lhe servia de banco junto ao lago e, com algum receio do que poderia encontrar ia no caminho a pensar…
“Que poderá estar ali escondido? Talvez não tenha nada. Pode ser que até só esteja uma simples tábua levantada. Mas, se assim for porque me suscita tanto interesse?”
Sim, se dizem que as mulheres têm um sexto sentido, parece que Luciana já o tinha adquirido. Muito pouco lhe escapa, é inteligente e perspicaz.
Entre seus passos leves e pensamentos fugazes, chega ao celeiro e, antes de entrar, toca na porta com dois dedos empurrando-a.
Pé ante pé vai fazendo slalon entre as ferramentas que mantinham a quinta. Ao avistar o local da misteriosa tábua levantada, hesita.
Primeiro observa-a durante minutos…
Seguidamente, não temendo, investe para a levantar. Sopra para tirar o pó e os restos de feno que dormiam sob a mesma e levanta-a.
Um maço de papeis atados com cordel!!!
- O que é isto? – diz Luciana perguntando aos seus botões.
Mesmo sabendo que não devia cobiçar as coisas alheias, a sua jovem curiosidade foi mais forte do que qualquer lembrança relativa aos ensinamentos de consciência de Marília.
Num ápice, desata o maço de folhas. Eram folhas soltas de um bloco escritas com letra de esperança de encontrar algo.
Nelas escreviam-se pensamentos e vontades de um qualquer amor platónico.
Não seria por falta de destinatário que estas não tinham sido entregues. Talvez fossem por falta de remetente… não estavam assinadas.
Assim, Luciana teria mais dificuldade em saber de quem elas eram. Talvez não viesse a saber também, para quem seriam.
Falavam de um amor que ela gostaria de sentir. Falavam de uma admiração pura de um ser por outro. Descreviam as coisas de uma forma mais apaixonada mas percebendo que não eram correspondidas.
Queria ler todas mas com receio de ser apanhada pelo autor daquelas cartas, atou-as de novo e voltou a colocá-las no mesmo sítio.
Saiu do celeiro pensativa… Havia ali frases que já havia sentido o seu significado. Parecia que conhecia o aroma de cada uma delas.
Quem poderá admirar assim alguém? Quem não terá coragem de se declarar? Quem terá um admirador assim?...