O homem que não se podia mexer
As borboletas têm vida curta e isso era a sua preocupação.
O que faria? Com quem conversaria depois da borboleta o deixar?
Ao sol, na janela, a contar as ondas.
Sonhava poder um dia, levantar-se daquela cadeira e voar por cima do mar. A sua cadeira tinha rodas mas não andava mais do que desde a sua cama até à janela.
Tal como a sua cadeira, o homem também não se movimentava muito, apenas o pensamento era ágil.
Os olhos penetrados no azul marinho, só se desviavam quando a borboleta pousava na sua mão.
Pela manhã, a vida daquela borboleta dava alento ao homem.
“Sabes, hoje sonhei que fui correr na praia. Aquela areia ainda é tão fina como há trinta anos. A espuma é fresca. As ondas beijaram-me os pés. Depois de muitos metros a correr, mergulhei no mar, senti aquela fresca sensação em todo o meu corpo. Depois dormi deitado. Os meus lençóis já eram feitos de areia. Sabes, senti-me livre.
O melhor de tudo, foi quando voei. Sim, eu voei!!! Estava deitado na areia e pensei ser como tu. Então levantei-me, desci até ao mar e, antes que mais uma onda me molhasse, eu voei, fui livre.”
A borboleta abanou as suas finas asas, mexeu-se mais um pouco e voou. Pairou sob a sua face como se de uma despedida se tratasse e foi embora.
O homem tinha sonhado, a borboleta não voltou a aparecer, ele não mais acordou, apenas voou por cima do mar.


