Vivemos hoje numa sociedade com toda a pomposidade dos nomes que lhe dão: Sociedade da Informação, Sociedade livre, Sociedade para Todos, etc, etc, etc… que nos faz pensar que somos livres.
Será que é mesmo uma sociedade livre ou será uma sociedade controladora de tudo e de todos?
Alguma da generosidade que vemos hoje em dia, é o resultado da vontade de controlar.
Há muito tempo atrás, por altura das terras feudais, um homem muito rico que detinha terras e terras onde trabalhavam aldeias inteiras, percebeu que as pessoas perdiam algum do seu tempo e despendiam muitas energias no final de um dia de trabalho para irem ao rio buscar água para suas casas. Certo dia, decidiu construir um poço no meio do seu feudo para que as pessoas pudessem abastecer-se de água. Para acrescentar a este acto mais um pormenor de generosidade, permitiu que os seus subordinados fossem buscar água durante uma hora no decorrer do dia de trabalho. A única medida de ordem que tomou foi colocar um dos seus homens a manter a disciplina no poço pois iria muita gente buscar água.
A ideia agradou a todos e o acto generoso foi falado para além dos seus feudos. O assunto aumentou os créditos de tão nobre senhor.
Durante largos meses o povo sentiu-se agradado mas, a certa altura, alguns deles começaram a deixar de ir ao poço. Rapidamente, esta atitude da população chegou aos ouvidos do Senhor feudal.
Desagradado com o afastamento do poço decidiu mandar investigar esta nova tendência e recusa da população em relação à sua generosidade.
Durante anos e anos, a população encontrava-se, no final do dia, junto ao rio, para poder pôr a conversa em dia, para se distrair e para se divertir fazendo as trocas directas dos seus bens. Com a criação do poço, a população não tinha muito tempo para conversar e mesmo que o fizessem, tinham a “companhia” do guarda do poço. Perderam a possibilidade de conversar, de se divertirem e, principalmente, de exprimirem opiniões.
O poço de generosidade que era o Senhor feudal tinha-se tornado no poço que lhes dava água mas que lhes tirava liberdade.
Um acto de generosidade que tinha como principal objectivo, o controlo de uma comunidade.
A sociedade de hoje, cria, transforma e controla os movimentos de todos os elementos mesmo quando nos parece que tem gestos de generosidade. Somos o Pinóquio nas mãos de um Gepetto mau. Cada ligação a um espaço, a um emprego, a uma organização, cada adereço de tempo que nos marca o ritmo, são como que as guias de uma marioneta de madeira frágil ou forte conforme a firmeza dos tecidos que constituem cada um de nós mas que nos “levam” por caminhos já traçados.