13 novembro 2007

Se eu não (te) visse

Sentiria o teu cheiro em vez de conhecer o teu olhar,
Saberia de que alegrias é feito o teu dia pelo tom da tua voz,
Poderia tocar cada palavra que me dizes com tacto subtil,
Leria os teus lábios com as pontas dos meus dedos,
Mas beijar-te-ia com todo(s) o(s) sentidos…

06 novembro 2007

Escrita = Liberdade

Muitas pessoas escrevem, mas quantas sabem realmente escrever? O que um escritor faz, é colocar a palavra em liberdade. Eu não tenho esse dom. As palavras que escrevo estão presas a mim e o que faço, é soltá-las. Se elas são, a partir daqui, livres… não sei.
Um dia quando alguém me ler, se isso acontecer, então saberei se as palavras tomaram o prazer da liberdade.
De uma coisa estou certo: sou livre quando me prendo à escrita.

05 novembro 2007

Valor

Há uns dias pus-me a pensar na palavra valor. Eu defendo valores, eu tenho os meus valores, existe uma bolsa de valores, os jovens perguntam na escola “quantos valores tiveste no exame?”, esta ou aquela pessoa têm determinado valor para mim, as coisas têm valor, as casas são vendidas por valores muito acima do que realmente valem devido à especulação imobiliária.
As coisas têm valor palpável e as pessoas têm valor sentimental.
Esta premissa não será assim tão válida dentro dos meus valores. Senão, vejamos a minha perspectiva.
As coisas que o meu avô me deixou, têm muito mais valor do que os valores que algumas pessoas defendem. Por outro lado, há pessoas que valem aquilo que produzem – têm valor monetário, material. Outros têm o valor das cores que defendem.
Eu gosto de defender valores, eu gosto de me identificar com eles.
E eu? Quanto valho eu no mundo?
Tenho o meu valor. Sem falsas modéstias não me sinto menos do que os outros em termos de valor pessoal, também não me sinto mais do que outros demais indivíduos. Andamos no meio de uma multidão sem valor por si só mas que circula em torno disso mesmo, valores. Uns buscam os monetários, outros, a defesa dos próprios. Outros há, que não os têm.
As pessoas que defendem valores têm personalidade. Por vezes, temos de deixar o nosso orgulho de parte para podermos viver em sociedade mas não gosto que coloquem em causa os meus valores em função de algo que quero atingir.
Quanto vale um pedaço de papel com uma inscrição? Um escrito de um grande das letras pode valer muito para uns e não ser mais do que um guardanapo rasurado para outros. Uma nota pode ser a porta de acesso a mais um bem ou pode não ter qualquer valor para quem necessita de outro tipo de valor.
Posso estar só no meio de uma multidão, assim como posso ser pobre no meio da toda a riqueza. Os novos-ricos, assim não pensam.
O meu bem mais precioso é a vida. Há dias, soube de um livro que foi lançado sob o título: “ninguém morre duas vezes”, eu tive a sorte de “nascer duas vezes”.
Que valor tem este texto? O valor de cinco minutos que demorei a escrever.
E para ti, que valor tenho?

02 novembro 2007

Sociedade Gepetto

Vivemos hoje numa sociedade com toda a pomposidade dos nomes que lhe dão: Sociedade da Informação, Sociedade livre, Sociedade para Todos, etc, etc, etc… que nos faz pensar que somos livres.
Será que é mesmo uma sociedade livre ou será uma sociedade controladora de tudo e de todos?
Alguma da generosidade que vemos hoje em dia, é o resultado da vontade de controlar.
Há muito tempo atrás, por altura das terras feudais, um homem muito rico que detinha terras e terras onde trabalhavam aldeias inteiras, percebeu que as pessoas perdiam algum do seu tempo e despendiam muitas energias no final de um dia de trabalho para irem ao rio buscar água para suas casas. Certo dia, decidiu construir um poço no meio do seu feudo para que as pessoas pudessem abastecer-se de água. Para acrescentar a este acto mais um pormenor de generosidade, permitiu que os seus subordinados fossem buscar água durante uma hora no decorrer do dia de trabalho. A única medida de ordem que tomou foi colocar um dos seus homens a manter a disciplina no poço pois iria muita gente buscar água.
A ideia agradou a todos e o acto generoso foi falado para além dos seus feudos. O assunto aumentou os créditos de tão nobre senhor.
Durante largos meses o povo sentiu-se agradado mas, a certa altura, alguns deles começaram a deixar de ir ao poço. Rapidamente, esta atitude da população chegou aos ouvidos do Senhor feudal.
Desagradado com o afastamento do poço decidiu mandar investigar esta nova tendência e recusa da população em relação à sua generosidade.
Durante anos e anos, a população encontrava-se, no final do dia, junto ao rio, para poder pôr a conversa em dia, para se distrair e para se divertir fazendo as trocas directas dos seus bens. Com a criação do poço, a população não tinha muito tempo para conversar e mesmo que o fizessem, tinham a “companhia” do guarda do poço. Perderam a possibilidade de conversar, de se divertirem e, principalmente, de exprimirem opiniões.
O poço de generosidade que era o Senhor feudal tinha-se tornado no poço que lhes dava água mas que lhes tirava liberdade.
Um acto de generosidade que tinha como principal objectivo, o controlo de uma comunidade.
A sociedade de hoje, cria, transforma e controla os movimentos de todos os elementos mesmo quando nos parece que tem gestos de generosidade. Somos o Pinóquio nas mãos de um Gepetto mau. Cada ligação a um espaço, a um emprego, a uma organização, cada adereço de tempo que nos marca o ritmo, são como que as guias de uma marioneta de madeira frágil ou forte conforme a firmeza dos tecidos que constituem cada um de nós mas que nos “levam” por caminhos já traçados.