29 dezembro 2008

Noite

Vou ter uma noite de sonho...
... vou dormir.

23 dezembro 2008

Conto de Natal

Maria pedia na rua para poder ter, pelo menos, uma refeição quente por dia.
Aos sete anos já era independente.Não dependia de nada nem de ninguém para decidir por onde caminhava, a que horas se levantava ou que roupa vestia. Tinha uma explicação: há dois anos ficou sem a companhia da mãe.
Antes disso, passava os dias com ela na rua. Eram dependentes uma da outra. Há dois anos, elas eram uma família - Mãe e filha. Há dois anos Maria tinha uma mãe que lhe apertava a roupa nas noites frias do Inverno. Há dois anos, Maria partilhava a mesma sopa com a mãe.
Porque foi abandonada, Maria não sabia explicar mas não culpava a mãe. A mãe tinha sintomas de uma doença grave e pensou entregá-la num abrigo para crianças.
No dia em que faleceu, há dois anos, sem forças para caminhar, pediu a Maria que lhe fosse buscar algo quente.
Pediu para trazer ajuda e, antes de se despedir, disse que a amava “daqui até à lua”.
Maria, então com cinco anos, correu para pedir ajuda para sua mãe.
Por mais rápida que chegasse a ajuda, Maria nunca chegaria a tempo de salvar a sua mãe, tinha falecido assim que se separaram.Não deixaram que Maria visse o adormecer de quem a trouxe ao mundo. Desde então, a menina pedia na rua.
Nesta altura, Maria enchia-se de luz. Os seus olhos brilhavam com as iluminações de Natal.
Como nunca tinha tido um presente de Natal, Maria não percebia o que significava a imensidão de sacos que toda a gente transportava nesta altura do ano. Pensava que, cada saco levava uma luzinha para colocar no pinheiro. Quem mais sacos leva, mais luzes tem no pinheiro.
À noite, Maria tinha a companhia do presépio da cidade para dormir. Aconchegava-se no meio das figuras dos animais. Por detrás do burro e da vaca estava o calor que a mantinha viva – era a família que nunca tinha tido.
Na véspera de Natal, Maria sentia muito frio e, quando estava prestes a adormecer, foi visitada por uma luz que a aqueceu. Maria não teve medo e pediu, sem hesitar, o seu melhor presente de Natal.
Maria não queria uma boneca, não queria riqueza, não queria ter muita coisa; Maria pediu para voltar a ver a mãe e, se lhe fosse permitido, poder colocar uma luz no pinheiro com a ajuda dela.
A luz que pairava sobre ela, levantou em direcção ao céu deixando um rasto brilhante.
Na manhã seguinte o presépio tinha vida, Maria tinha realizado o seu sonho. A menina que pedia na rua tinha dado vida ao menino da manjedoura.
O pinheiro de Natal tinha mais uma luz, a mais luminosa de todas, Maria acendeu-a com ajuda da sua mãe.

17 dezembro 2008

Os óculos

Banco de jardim, sempre o mesmo habitante – Santiago.
Todos os dias, passavam as mesmas pessoas que lhe acenavam. Santiago retribuía com um sorriso escondido pela sua densa barba.
Seus amigos eram os pombos que pousavam a seu lado e que lhe contavam histórias. A estátua do escritor era sua confidente.
“Grande homem, escreveu aqui e foi lido lá fora. Se um dia me dessem uns óculos, eu leria todos os livros dele. Tenho tempo, todo o tempo.”
Vagueava pela praça, contava os pombos pelos dedos. Dava-lhes nomes.
Corrula era o pombo mais forte e mais belo. Parece que segredava com Santiago pela forma como se lhe aninhava junto ao ombro.
Certo dia, o Sr. Norberto, morador na grande casa amarela da praça e que conhecia Santiago desde a juventude, ouviu-o prometer ao escritor da estátua que um dia leria todos os seus livros, bastava, ter ele, uns óculos.
Na manhã de sábado, quando Sr. Norberto passou por Santiago, ofereceu-lhe uns óculos e um livro do “homem de bronze”. Santiago todo boas maneiras – pobre mas educado – agradeceu com mil vénias.
A partir daí o mundo seria diferente.
Santiago folheou o livro cheio de contente. Virava e revirava cada página como se de uma pena se tratasse.
Sr. Norberto, de volta a casa, viu Santiago a passear nas últimas páginas. No final do dia, já havia folheado todo o livro.
Semanas se passaram e, apenas um hábito tinha mudado, Santiago já não passava as suas tardes a ouvir as histórias dos pombos. Agora era ele que as contava.
No final de cada livro, Santiago, levantava o mesmo à passagem do Sr. Norberto. No dia seguinte outro livro chegaria.
Até que o Sr. Norberto pergunta a Santiago:
– Gostaste do livro que acabaste de ler ontem? Foi o que mais gostei de ler.
Santiago respondeu:
– Os meus pombos gostaram, o Corrula até chamou os pombos da outra praça para virem ouvir as histórias.
– Mas… - o Sr. Norberto ia começar a falar quando foi interrompido por Santiago.
– É verdade Sr. Norberto, os óculos ajudam-me a contar melhor as histórias, os meus pombos pensam que sei ler e acreditam que as histórias são do homem da estátua.

07 dezembro 2008

A palavra

Palavras curam, palavras magoam, palavras matam …
Palavras para quê?
Uma imagem vale mais que mil palavras, mas conseguirá uma imagem traduzir as mil palavras de um escritor?
Poderá um recurso de estilo caber numa imagem?
Não, disso não me convenço.
Terá uma imagem, poesia?
Será um fotógrafo capaz de descrever duas páginas de Eça?
E o som, poderá a melhor orquestra ler as notas de Camilo?
Palavras curam, palavras magoam, palavras matam… mas as palavras não se vêem…
O melhor que me podem dar… a sua palavra.
Que nunca matem… a minha palavra!!!

03 dezembro 2008

cume do conhecimento

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