17 dezembro 2008

Os óculos

Banco de jardim, sempre o mesmo habitante – Santiago.
Todos os dias, passavam as mesmas pessoas que lhe acenavam. Santiago retribuía com um sorriso escondido pela sua densa barba.
Seus amigos eram os pombos que pousavam a seu lado e que lhe contavam histórias. A estátua do escritor era sua confidente.
“Grande homem, escreveu aqui e foi lido lá fora. Se um dia me dessem uns óculos, eu leria todos os livros dele. Tenho tempo, todo o tempo.”
Vagueava pela praça, contava os pombos pelos dedos. Dava-lhes nomes.
Corrula era o pombo mais forte e mais belo. Parece que segredava com Santiago pela forma como se lhe aninhava junto ao ombro.
Certo dia, o Sr. Norberto, morador na grande casa amarela da praça e que conhecia Santiago desde a juventude, ouviu-o prometer ao escritor da estátua que um dia leria todos os seus livros, bastava, ter ele, uns óculos.
Na manhã de sábado, quando Sr. Norberto passou por Santiago, ofereceu-lhe uns óculos e um livro do “homem de bronze”. Santiago todo boas maneiras – pobre mas educado – agradeceu com mil vénias.
A partir daí o mundo seria diferente.
Santiago folheou o livro cheio de contente. Virava e revirava cada página como se de uma pena se tratasse.
Sr. Norberto, de volta a casa, viu Santiago a passear nas últimas páginas. No final do dia, já havia folheado todo o livro.
Semanas se passaram e, apenas um hábito tinha mudado, Santiago já não passava as suas tardes a ouvir as histórias dos pombos. Agora era ele que as contava.
No final de cada livro, Santiago, levantava o mesmo à passagem do Sr. Norberto. No dia seguinte outro livro chegaria.
Até que o Sr. Norberto pergunta a Santiago:
– Gostaste do livro que acabaste de ler ontem? Foi o que mais gostei de ler.
Santiago respondeu:
– Os meus pombos gostaram, o Corrula até chamou os pombos da outra praça para virem ouvir as histórias.
– Mas… - o Sr. Norberto ia começar a falar quando foi interrompido por Santiago.
– É verdade Sr. Norberto, os óculos ajudam-me a contar melhor as histórias, os meus pombos pensam que sei ler e acreditam que as histórias são do homem da estátua.

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