25 fevereiro 2008

Capítulo III: Descoberta - primeira aventura

...continuação
Luciana acordara cedo, muito cedo. Já estava pronta antes mesmo da Marília ter preparado o melhor pequeno-almoço da região. O cheirinho a bolo de laranja vinha da cozinha, o café estava quase a acabar de ser feito, a fruta fresca vinda do pomar da quinta enfeitava a mesa e “é essencial para crescer” (dizia Marília todas as manhãs), os pássaros eram convidados àquelas manhãs, saudáveis só de ver. Jardim florido defronte. Na linha do horizonte, o bosque. No meio desta clorofila, um oásis – o lago – companheiro de escrita de Rodrigo.
Tudo parecia cenário de filme. A cozinha enorme, onde todos gostavam de acordar com o café e os biscoitos da Marília, de almoçar, lanchar, jantar e conversar.
Marília era o porto de abrigo de D. Teresa, de Luciana e até de D. Joaquim. Este conversava com Marília sobre os seus negócios. Dizia o senhorio que, se Marília tinha tão boas mãos para ingredientes, tão boa visão para governar uma cozinha que alimentava toda a quinta, então seria certamente uma boa conselheira para os negócios.
- Os economistas ludibriam com termos técnicos de macroeconomia, com estudos de mercado que indicam tendências… São uns facciosos, eu bem sei para que bolsos olham eles – dizia com desdém D. Joaquim.
A verdade é que nestes anos de sucesso nos negócios, os seus melhores investimentos foram aconselhados por Marília na sua mais sincera ignorância sobre economia.
Enquanto os senhores não desciam para o pequeno-almoço que gostavam de tomar na cozinha, Luciana deliciava-se. Estava ansiosa com o que tinha de fazer, com o que tinha de procurar.
Marília sentia-o e, entre o café que fazia e os olhares que lançava para Luciana, profere uma pergunta retórica:
- Está muito feliz, menina?...
Luciana sem saber o que dizer em relação ao que procurar, deixa a pergunta no ar com um sorriso como resposta.
Na realidade, Luciana não imaginaria o que poderia encontrar, sentia que havia algo debaixo daquela simples tábua de soalho que lhe suscitava o interesse.
Saiu para o Jardim, ainda com dois biscoitos na mão, e foi descendo até ao lago.
Ainda se sentou por instantes junto ao lago.
Ao ver que a porta da arrecadação já se encontrava aberta, sorriu.
Levanta-se rapidamente e dirige-se para a descoberta do que não sabe o que é.
continua...

24 fevereiro 2008

Capítulo II: Início da descoberta...

... continuação
Nas férias do Verão passado, a brincar com os seus primos da Escócia, Luciana foi-se esconder no celeiro do fundo do jardim. Quando estava quase a ser descoberta, pisou aquela tabuinha de soalho que muitos tesouros guardava.
Depois da brincadeira das escondidas ter terminado, quando todos se deliciavam com os biscoitos de Marília, Luciana esquivou-se da cozinha e desceu o jardim. Sabia que ali se guardava algo.
Com o sol a descer, a luz já não era muita e, meio a medo, entrou no celeiro. Desviando-se dos utensílios e ferramentas encontrou o pedaço de madeira que guardava um tesouro. Má sorte, tinham deixado uma caixa em cima da tábua solta do soalho. Não tinha força para a levantar e a sua descoberta teria de ser adiada.
À noite, enquanto os senhores jantavam na sala com a menina Luciana, Rodrigo mostrava a Marília mais um texto.
A ternura de mãe que aquelas mãos tinham, tocara nas mãos de Rodrigo.
- Um dia serás escritor.
Rodrigo, contente por tal motivação, mas com consciência da existência de melhores profere uma expressão amena:
- Calma, Marília. Ainda tenho muito a aprender. Vê só a menina Luciana, escreve muito bem. Um dia gostava de ser como ela. Gostava de ver o meu livro exposto na montra da Pirâmide
[1].
Rodrigo sabia que, para poder ter um livro escrito, tinha de trabalhar muito, tinha de escrever bem. Para ele, não era uma questão de orgulho mas antes uma questão de qualidade que ele dizia querer atingir.
D. Joaquim queria saber sobre o que ele tanto escrevia.
Por um lado, Rodrigo não tinha muito à-vontade para mostrar a D. Joaquim que gostava assim tanto de Luciana e depois, mesmo que isso não influenciasse, sabia que se fosse intenção de D. Joaquim editar tais textos, a vontade, o dinheiro e os seus conhecimentos encarregavam-se de colocar o livros nas montras de todas as livrarias. No entanto, um livro seu, seria publicado por qualidade e não por satisfação de um capricho.
Rodrigo, que gostava de ler e que escolhia os autores pela qualidade que ouvia falar, queria ser bom na escrita. Dizia ele que as simples linhas que escrevia para Luciana não chegavam para ser um bom escritor. Queria saber contar histórias, queria saber escrever fluentemente, queria conseguir prender os seus leitores aos seus livros e às suas personagens.
_____________
[1] Uma pequena livraria que ficava na cidade onde tinha nascido Rodrigo. Não se comparava às do norte do país onde figuravam os melhores escritores. Rodrigo só queria escrever.
continua...

23 fevereiro 2008

Capítulo I: Começando…

Mansão imperial no meio de um bosque denso. Datava do século XVIII e mais parecia um palácio. Tinha um belo lago no meio do jardim.
Rodrigo estava no jardim como era habitual às cinco da tarde. Escrevia mais um dos textos que dizia serem a voz da sua alma. Era um jovem com um amor pela vida que não era habitual.
Escrevia sobre duas coisas: a busca de algo que nem ele sabia o que era e sobre Luciana, a sua eterna paixão.
Luciana apreciava-o da janela do seu quarto, no terceiro andar. Via-o como a inspiração para os seus escritos, já havia editado um livro: “Memórias de uma infância inglesa”.
Luciana era a filha dos senhorios. Tinha da mesma idade de Rodrigo.
Como Rodrigo era de classe inferior, este admirava-a platonicamente.
Rodrigo era órfão e, desde muito novo, ficou a cargo de Marília, a empregada daquela mansão. Marília foi como uma mãe para ele.
Quando soube do acidente que vitimara os pais de Robrigo, Marília pediu a D. Joaquim e a D. Teresa que o albergassem. Afinal, sempre serviram aquela casa com rectidão.
D. Joaquim, de bom coração, aceitou deixá-lo a cargo de Marília, ajudou sempre na sua educação mas não lhe demonstrava o carinho que interiormente tinha por aquele rapaz.
Rodrigo cumpria com distinção as suas obrigações. Dizia que tinha de agradecer a Marília com boas notas.
De manhã cedo ajudava com os animais da quinta, depois ia para a escola do outro lado do bosque, quando regressava sempre com um apetite de leão – dizia Marília, tinha somente meia hora. Dizia ele que tinha de fazer os trabalhos de casa porque a matéria estava fresca.
Depois voltava para as lides da quinta. Ajudava tudo e todos sempre sem lhe pedirem. Trabalhava com afinco.
Às quatro e meia, religiosamente, ia lanchar. Marília preparava-lhe um repasto que alimentava três pessoas mas Rodrigo, consumia-o.
Aos olhos de Marília, Rodrigo estava ainda a crescer e precisava de repor energias. Para Marília, era ainda menino mas trabalhava como um Homem. Pegava nos utensílios com à-vontade invulgar.
Mas do que ele gostava mesmo, era de escrever. Em pequeno, com imaginação fértil, era dos melhores nas composições. Depois andou alheado da escrita. Com 16 anos, como não tinha forma de se expressar directamente a Luciana, começou a “confessar-se ao papel” como ele referia à sua escrita de amor platónico.
Cinco da tarde e lá estava novamente Rodrigo a escrever. Marília olhava-o com ternura da porta da cozinha. Os seus cadernos ficavam guardados debaixo do soalho do sótão do celeiro. Aquela tabuinha que escondia o seu amor por Luciana.
Seu sonho maior, era poder escrever um livro que demonstrasse o seu afecto por ela. Assim, concretizava a vontade de escrever e exteriorizava o seu sentimento. Mas, para ele, ainda era cedo.


continua...

17 fevereiro 2008

destino

direitos reservados hX 2007

Para onde vou?
Será que te vou encontrar?
Parto de onde sabes que estou,
Só com o desejo de te beijar.

09 fevereiro 2008

o acordar dos deuses

direitos reservados hX 2007

06 fevereiro 2008

100 título (II)

Uma folha de papel… de que serve uma nas minhas mãos?
Servirá para escrever palavras soltas que se ligam na minha mente. Por vezes, elas tomam um rumo que me levam a pensar em ti… Outras, são o resultado, de uma lógica de pensares, contigo como juízo principal.
Servirá para desenhar os traços com que se faz uma expressão do teu rosto. Linhas ténues de uma amizade que me tens demonstrado mais claramente.
O lápis é um instrumento tradutor dos meus sentidos para impressão, assim como os meus olhos são os intérpretes daquilo que sinto por ti.
Sei que sabes o que sinto.
Por vezes, penso que fica algo por dizer… Ficas com algo guardado para ti?
Preciso de ti, preciso de te falar, preciso de voltar a tocar na tua mão como outrora o fiz.
Também preciso que me olhes e, principalmente que…
…um dia mostrar-te-ei o que mais preciso…

03 fevereiro 2008

Desenho um traço do teu olhar…

Lápis que gritas, no papel, um brado de expressividade forte como o teu olhar. Adoro mergulhar nas profundezas do espelho da tua alma…
Sei que percebes o meu olhar. Por isso, desenho abertamente uma expressão que emite um sentimento que nutro por ti.
Quem saberá ler este rascunho?
Desenho ainda não é… nem sei se alguma vez o será.
Para ser um desenho terá de ser assinado, terá de ser confirmado por um desenhador.
Pego no carvão que pode trazer-te à minha companhia se eu conseguir chamar-te a mim neste papel. Começo por tentar fazer uma sombra mas o teu olhar é feito de luz. De seguida toco no carvão para dar forma à expressão que só tu sabes ter.
Lápis, papel… tento colocar o preto no branco mas… como se põe a íris sob um lençol?…
É difícil descrever tal expressividade. Nem Eça conseguiria descrever cada pormenor de sentimento que emites com teus olhos. Por mais páginas que escrevesse, por mais romances que tal artífice da linguagem criasse, não resultaria personagem tão bela nem com tão belo olhar.
Pedir ao melhor desenhador que colocasse no papel aquilo que lanças, seria impor limites à tua visão. O desenho mais belo não teria a beleza daquilo que vejo quando te olho.
Um escultor não transmitiria nem o relevo nem a textura das pérolas que tens na face. Michelângelo poderia passar horas a moldar o que nunca teria a doçura das tuas lágrimas.
Os melhores artistas não conseguiriam criar aquilo que a natureza colocou na tua face – estrelas brilhantes.
Tento eu, neste rascunho de pensamento, esboçar uma forma de dizer que admiro a leveza do teu olhar e a profundidade da tua expressão…