Numa rua estreita e recortada, havia uma loja, muito discreta. Trabalhava lá, apenas um homem.
O homem tratava de incinerar sonhos. Sonhos de quem achava que não valia a pena por eles lutar.
Das 9h00 às 17h00, todos os dias. Segunda a sexta. Abria o estabelecimento virava a placa já gasta que dizia "Aberto" de um lado e "Fechado" do outro.
Tinha, na montra do seu estabelecimento, uma frase:
"Sonhos. Não compramos nem vendemos. Incineramos."
Havia de tudo:
-- adolescentes que iam entregar os sonhos de ser famoso, rico, loiro, bonito...
-- mulheres que desistiam do príncipe encantado...
-- quarentões finalmente convencidos que não iriam voltar a novos e musculados...
O homem não queria saber muito dos sonhos dos outros. Recebia as caixinhas de sonhos, pesava o sonho e cobrava a incineração. Os clientes esperavam a operação e viam o talão de consumação do facto, depois, até o talão era eliminado.
Um dia, depois de um mês sem que lhe fossem levar uma caixinha de sonho para incinerar, o homem pensou que, se calhar, as pessoas tinham começado a acreditar nos próprios sonhos.
Também ele tinha um sonho, mas não podia concretizá-lo.
Então o homem, na impossibilidade de concretizar o sonho, incinerou-se.
No dia seguinte viram na montra uma nova frase:
"Acabaram as caixinhas, fui sonhar..."