20 outubro 2009

Sonha que vive a sonhar

Era uma vez um homem que tinha um sonho.
Acordou dentro do sonho que queria viver e sonhou acordado dentro do sonho que te teve.
Todas as noites, pensava voltar a sonhar com o sonho que teve para voltar a viver a vida que queria ter no sonho.
Se consegue sonhar todas as noites com o sonho que quer ter numa vida acordada, porque não pode viver todos os dias essa vida que não é um sonho mas um acordado constante?
A vida tem o objectivo de concretizar sonhos. Os sonhos são o abstracto do que se quer concretizar na vida real.
O homem quer sonhar que vive numa vida de sonho… real.

19 outubro 2009

Os mais baixos não são menores

Era uma vez, John X, um piloto de um avião bombardeiro.
Arrogante, com a ideia de ser o mais inteligente da aviação.
Todos os dias, fazia questão de ser admirado pelos alunos da aviação, passeando-se na pista do porta-aviões sem os saudar.
Naquele porta-aviões, os alunos estavam encarregues de dobrar os pára-quedas dos pilotos. Era uma forma de aprenderem e de ter a responsabilidade de vidas nas suas mãos.
Naquela madrugada, John X e os restantes tripulantes foram acordados pelas campainhas de alarme, não era um exercício.
Uma missão nas ilhas Z.
Ao aproximar-se para atacar, o avião de John X foi atingido. O experiente piloto ejectou-se e aterrou de pára-quedas no meio da densa floresta.
Viveu cerca de cinco anos nas ilhas Z depois de ter sido torturado pelos nativos.
Quando já não acreditava em sair de lá, um acordo diplomático terminara com o sofrimento de todos.
John X volta a casa.
Começou a dar palestras aos aspirantes da escola de aviação civil. Toda a sua experiência de sobrevivência seria uma mais-valia.
Num daqueles domingos em que John X passeava pela praia, encontrou um jovem pai a brincar com o seu filho e o avião telecomandado.
O homem fixou John X e disse-lhe:
- Lembra-se de mim?
John X nunca tinha visto tal face.
- John X? Muito prazer. Fiquei muito feliz por saber que não falhei. Sou um ex-aluno da escola de aviação. Era eu que estava encarregue de dobrar o seu pára-quedas. Fi-lo sem saber quem se serviria daquele equipamento.
John X abraçou-o e não teve nem uma palavra para lhe agradecer a vida.

A partir de então, as palestras aos novos pilotos começavam desta forma:
“Bom dia a todos, quem dobrou o vosso pára-quedas hoje?”

15 outubro 2009

Onde se escondem os homens

Atrás de uma cara de vencedor, por vezes, vencido a cada acto.
Atrás de uma máquina de grande velocidade, que não faz andar nem uma ideia.
Atrás de um sonho que nunca se torna real mas que vive intensamente toda a vida.
Atrás das armas de pólvora seca que apagam os adversários em vez de os vencer.
Atrás de tanques e buldozer’s eliminam os obstáculos em vez de os ultrapassar.
Atrás de ideias que não são deles e que as defendem até ao dia em que se chega ao “kernel” e se percebe que, afinal, o pensador tem outro nome.
Atrás da retórica e das onomatopeias ininteligíveis que resultam numa transliteração rica em sons mas oca em sentido.
Atrás de sucessos atingidos com degraus humanos.

Já os Homens – esses mantêm os valores das fachadas antigas e recuperam os interiores de modo a serem tornados mais úteis, mais dignos.
Os Homens dão importância a cada elemento do puzzle de peças infinitas sem as quais não se pode preencher o quadro.
Os Homens não se escondem, só não precisam de se vestir de uma cor forte para serem vistos.

13 outubro 2009

Querer é... vencer

Disseram-me que eu não jogava nada!!!

Tenho alguns problemas a defender e outros tantos a atacar.
Não sou o melhor no um-para-um,
Fico várias vezes em fora-de-jogo,
Nunca marquei um golo de cabeça,
A bola escapa-se-me algumas vezes dos pés,
Tacticamente preciso de treino,
Em termos de condição física, preciso melhorar,
Não tenho altura para central,
Não tenho pulmão para médio,
Nem tenho velocidade para o ataque,

Um dia vou marcar um golo num mundial!!!

12 outubro 2009

Fim

Será que a palavra “fim” consegue resumir tudo aquilo que se passou até lá chegar?
É uma palavra breve. É fria.

11 outubro 2009

De que serve ser especial?

O homem não era o melhor, o homem não era o pior,
Costumava dizer que era “diferente”. Uns chamavam-lhe “vencedor”, outros, “especial”.
De que serve isso?
Ser especial tinha, para ele, um peso: todos os dias, tinha que ser igual a si mesmo, tarefa difícil.
Não podia falhar. Ele também não gostava de falhar porque era excessivamente crítico consigo próprio.
Os espelhos, para ele, tinham duas finalidades: servem para pentear e para criticar.
As pessoas especiais são assim: gostam de sentir o elogio e não de o ouvir.

Em tudo: ouvir – é bom, sentir – é melhor.