02 dezembro 2007

100 título (I)

Banco de jardim na praça onde moras. Os sinos da igreja que existe aqui perto, fazem soar duas badaladas e a lua está bem por cima de mim neste tecto de estrelas.
Um mendigo cobre-se com jornais nesta noite fria de Dezembro. Ele olha-me desconfiado sem saber o que faço eu, bem agasalhado, sentado junto ao coreto. Podia meter conversa, podia pedir-lhe um trago de bagaço que está na garrafa que tanto lhe serve de almofada, como de companhia, como também de fornalha. Tento pensar no quente que estaria dentro de uma sala com lareira que não tenho.
Que loucuras cometo, a sonhar com o momento em que vais abrir-me a porta para eu entrar.
À minha volta, candeeiros que fazem sombras atrás das árvores, o coreto onde ao domingo se fazem os concertos da banda filarmónica, os bancos de jardim onde aprendi a namorar. Naquele onde está o mendigo, escrevi o meu nome e adicionei-o ao teu. Sei que não sabes disso mas, um jovem apaixonado como eu, publicava seus amores riscando num banco de jardim. Hoje escrevo para ti, olho-te com expressividade e sei que por vezes me lês (o olhar e os meus escritos).
Estou mesmo esperançado que um dia abrirás a porta e me convidarás para entrar, não só na tua casa, como também no teu mundo.
De quando em vez, fixo os olhos na janela do teu quarto na esperança que sintas algo que te faça vir tomar esta brisa fresca e veres-me como alguém sempre presente. No fundo, sei que já não moras aí, sei que não virás ver-me, sei que não poderás abrir-me a porta do teu mundo mas sabes que continuarei aqui a fazer companhia ao mendigo.

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