Há uma inocência que protege tudo o que as crianças dizem. Seja a adultos ou a outras crianças, tudo o que dizem é sempre sem a mais pequena partícula de maldade mas, por vezes, pode ser tão cruel ao ponto de fazer pensar muito os mais inteligentes adultos.
Quando eles começam a crescer, queremos que saibam tudo. Perguntam todos os “porquês” querem saber por que razão hoje vestimos verde ou amarelo. Porque razão a fruta é boa. Por que têm sempre de comer a sopa antes do bife e das batatas fritas que tanto adoram.
Depois começam por escolher a roupa.
Não querem aquela camisola castanha, porque não! Não gostam daqueles calções, porque não! Querem aquelas sapatilhas, porque sim!
Enfim, “santa paciência” – proferem os mais calmos progenitores.
Depois, há os comentários que começam a fazer. Quando dois adultos conversam das mais diversas coisas, as crianças podem estar o mais distraídas possível, podem estar a brincar com o carrinho ou a boneca quer mais adoram mas, de repente, ouviram a conversa toda e são capazes de a relatar, tim-tim por tim-tim, no meio de um grupo de amigos dos seus pais. Quanta crueldade!!!
“O pai abraçou a mãe na cozinha” – aceita-se, mas se for: “o pai pediu á mãe para tomar banho com ela e ela disse para ele ter juízo…”, já começa a envergonhar. Mas há os piores...
Ou então quando os seus pais têm um comentário mais provocador ou uma atitude mais adulta como um amasso no corredor ou um carinho na sala, os mais novos contam com a maior das naturalidades tudo o que se passou.
Mas depois, há as questões sérias que os mais novos não são capazes de conter. Se vêem alguém sem cabelo, mesmo que se trate de alguém muito doente:
- Olha o careca!
…
Estão os pais no pediatra a contar como o menino é bem comportado. O menino solta um barulho e o pai tenta fazer de conta que não foi nada até que o menino se ri e diz tocando no pai:
- Dei um “pum”.
O pai tenta ignorar mas começa a ficar corado.
Mais uma vez e mais alto:
- Pai, dei um “pum”… eh, eh, eh…
O que fazer?
…
Os pais estão no Shopping no final de uma semana de trabalho. Levam os mais novos para aquele espaço para que eles vejam coisas diferentes e se distraiam. Primeiro, querem fazer chichi, depois, têm sede, depois, têm fome. Querem isto e aquilo. Começa a aventura.
Vão comer a uma pizzaria para que eles gostem. Pedem uma pizza familiar mas, antes disso, duas sopas.
Beicinho, choro, grito.
“Eu não quero sopaaaaaaaaa…”
Os pais, fazem um sorriso amarelo, incomodados com tal “berreiro” e tentam falar com eles entre os dentes mostrando-lhes que não podem gritar e que os meninos que gritam são feios ou que vem o homem mau buscá-los.
Chega a sopa, berreiro maior do mais velho.
O mais novo come a sua com a maior da rapidez (ainda não sabe o que é pizza).
O outro, que já se apercebeu que vem a pizza, faz uma birra descomunal.
Será que os pais merecem esta crueldade dos seus filhos depois de tanto esforço e de uma semana de trabalho?
…
A tia vem da aldeia para ver o menino.
A meio do jantar, o menino começa com as travessuras do costume (caretas, fitas, brincadeira com o arroz). A tia belisca-o por debaixo da mesa para que este pare com a brincadeira. A seguir, o comentário:
- Mãe, a tia beliscou-me!!!
A tia fica corada.
…
Maldade, inocência, traquinice, enfim, características intrínsecas a gente de palmo e meio.