04 setembro 2008

Capítulo VI - Diligências

Luciana, agora tinha o hábito de levantar-se bem cedo e montar guarda ao celeiro da janela do seu quarto.
Antes mesmo de Marília preparar o pequeno-almoço – o que era bastante difícil – Luciana estava bem acordada a ver novas movimentações.
Marília andava nas nuvens, será por causa do seu amor – pensava Luciana.
Talvez antes da refeição matinal, ela esconda os segredos que escreve dentro do celeiro – pensava a jovem.
Marília surge no jardim com um cesto no braço. Eis que Luciana se dispôs a escrever no seu caderno de apontamentos, qual detective privada.
Cada passo que Marília dava, era seguido por um olhar furtivo do alto da janela. Muitas ideias pairavam na mente de Luciana. As teorias e os possíveis amores estavam a ser apontados numa lista para serem estudados mais tarde.
Convencida que Marília era autora de tal tesouro escondido, só faltava saber quem era o destinatário e confirmá-lo.
Quando acaba a lista de possíveis amores de Marília, levanta o olhar do seu bloco de notas e repara nesta a apanhar amoras para o pequeno-almoço.
“Não posso crer que não é desta que descubro” – pensou a jovem.
Desce até à sala e fica a observar o celeiro, qual predador à espera da presa.
Entretanto, começa a eliminar alguns dos nomes que tinha numa outra lista de possíveis escritores de tais cartas.
Carlos não seria. Era um homem do campo e não sabia ler nem escrever, foi para a lista por ser um dos que entrava todos os dias no celeiro.
Deolinda, sua esposa e também trabalhadora da quinta, apesar de saber ler e escrever, tinha deixado de entrar no celeiro por razão daquele acidente que teve com a ceifeira que quase lhe tirava a vida. Esteve na lista por ser uma animadora nos serões quentes onde expunha os seus pensamentos como se fosse uma declamadora de poemas. Como escrevia bem talvez pudesse ser, mas não era.
O jovem Ricardo que estava na quinta há cerca de dois anos, também tinha figurado na lista, mas o seu recente romance com Raquel, a filha de uns vizinhos da quinta, tinha feito com que Luciana o eliminasse da lista.
Vânia, a empregada de casa, era agora a nova pessoa a investigar.
Era uma jovem muito bonita que estava na quinta há cinco anos. Tinha vindo de longe, dos arredores de Paris, onde vivia com seus pais. Filha de uma família muito pobre, veio à procura de uma oportunidade junto da avó, a velhinha Dolores que tinha o dom da fazer a melhor compota de mirtilo de que há memória.
Vânia era tímida e raramente saía de casa. Tratava dos quartos e da roupa como ninguém. Tudo ficava impecável à sua passagem. Pouco falava, mesmo com os outros empregados. Tinha sofrido muito em nova e havia confessado a Marília ter tido muita sorte em ter entrado naquela casa.
Nunca se lhe tinha conhecido um amigo ou um namorado, a sua confidente era Marília. Como só falava francês quando chegou a casa de D. Joaquim e D. Teresa, tinha-se reservado aos seus pensamentos. Apesar disso, era muito educada e todos gostavam dela.
Pensando na necessidade de afecto que Luciana dizia que todos temos, seria Vânia a autora das cartas. Estaria ali a libertação de tanto silêncio da petite fille. Estaria ela a exteriorizar todo o sentimento retido? Estaria ela apaixonado por algum jovem da aldeia que lhe havia indicado o cupido numa ida à missa ao Domingo?
“SIM, talvez seja Vânia” – sussurrou Luciana como se de um eureka se tratasse.

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