30 setembro 2008

dominicanos

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29 setembro 2008

a minha televisão

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24 setembro 2008

Quero tocar-te, Senhora!

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Vou sair de mim, para poder amar somente a tua alma.
Não sei como o vou fazer pois não consigo desligar-me de mim, nem deixar o que me faz tocar-te mas vou amar só o teu espírito.
Não me vês, não me tocas, não me sentes nem que me coloque defronte de ti.

Teu corpo é belo, vou perder-me.
Tua voz é sensual, vou inebriar-me.
Teu olhar é profundo, vou sonhar.

Não quero ter-te, quero chegar a ti.

Como posso alcançar-te, senhora?
Será pelo espírito? Será pelo olhar?

23 setembro 2008

Amanhã

O amanhã não pode acabar

Porque o amanhã, amanhã, será hoje

O Hoje, amanhã, será ontem

O Ontem, já foi amanhã, no dia de anteontem.

O amanhã é futuro.

No futuro não posso mexer.

O amanhã não posso alcançar, tal como ele é

Porque quando o for, deixará de o ser.

21 setembro 2008

Porta da floresta

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20 setembro 2008

Os vícios de um homem

De tanto ouvir música, o homem ficou surdo.
Dedicou-se ao cinema e ficou cego em três tempos
Começou a fazer esculturas e ficou tetraplégico
Então o homem declamou poesia, mas nunca soube se era aplaudido…

18 setembro 2008

A lua

Companheira dos passeios. Eram ainda três da tarde quando olhei para o céu e ela já me tinha convidado para passear.
Hoje, à meia-noite, vaguearei contigo pelas ruas da minha terra.
Saio de casa no fim de jantar. Percebo que me esperas ao virar para sul. Olho-te com agrado pois iluminas os meus passos. Passo pela igreja e os sinos cumprimentam-me doze vezes, desço para o museu, lá a rua tem cheiro a maresia.
Paro e vejo que me acompanhas. Dás-me um sinal da tua companhia quando vejo a sombra de um maltês, que agora é pardo, e que – qual artista de circo – viaja por um muro.
Desço à praça onde tudo está monumental. Moderna, é certo, mas com o espírito nobre. A luz quase te absorve e, por isso, parto de novo à tua companhia.
Na rua à esquerda, voltas. As casas baixas aproximam-te de mim. Volto a mudar de rua, esta tem nome de herói da terra.
No final da rua, sou vértice de um trilátero: eu, tu e o mar…
Hoje, o mar, colocou o perfume de gala, tu o vestido de noite e eu bebo o licor da vossa companhia.

17 setembro 2008

Perguntas e respostas

Perguntas-me porque não escrevo se tenho lápis e papel,
… porque não sou feliz se estou vivo,
… porque baixo o ânimo quando devo estar contente,
… porque não vou em frente se tenho caminho livre,
… porque não passo este obstáculo como os outros,
… porque não faço ouvidos moucos a este silêncio,

Respondo: será que ainda saberei escrever para ti…
… a minha viva completa-se com outras,
… venceram-me pelo cansaço,
… há uma parede transparente aos olhos dos outros mas que eu vejo,
… ainda estou a construir-me para passar melhor,
… este engenhoso silêncio sabe como me ensurdecer

E eu pergunto-te:
Porque não me vês mesmo quando me olhas?

16 setembro 2008

O 13º cego

O homem cego ganha rituais, aprende a ouvir melhor, aprende a cheirar por todos os poros do seu corpo.
Morava no segundo andar da pousada.
Sabia de cor quantas escadas tinha de subir para alcançar o segundo piso.
No corredor, contava os passos antes de entrar na décima quarta porta à esquerda – o seu quarto.
“Que sorte, detesto o treze!”
Certo dia, ao décimo terceiro passo, um barulho enorme na rua, perdeu-se a contar.
Confiando nos passos que havia dado, continuou e acabou por entrar...
...na décima terceira porta.
Aí VIU o outro lado da rua,
...tinham deixado a janela aberta…

15 setembro 2008

Era uma vez um homem…

A vida corria-lhe mal. Não tinha casa, não tinha mais do que a roupa do corpo. Não via o fundo do prato no final de uma refeição porque, nem o prato nem a refeição faziam parte dos seus hábitos. Comia o que lhe davam ou o que conseguia encontrar quando os senhores chiques saíam das esplanadas.
Não pedia porque tinha vergonha. Simplesmente vagueava por entre as imensas esplanadas junto à praia.
O seu leito era um vão de escada por detrás de um restaurante.
Tinha um ritual: todos os dias ia até à escarpa junto do farol para pôr fim à vida.
Todos os dias, dizia para si:
“Hoje não é um bom dia, mas amanhã, termino este martírio.”
No dia seguinte era a mesma coisa…
Uma escarpa com cinquenta metros seria um fim rápido mas faltava-lhe coragem para o passo final.
Assim foi durante anos, até que, um dia, partiu decidido. O sol estava quase entre lençóis quando o homem se aproximou da escarpa. Hoje poria fim ao martírio que, para ele, era a vida.



O mar tinha subido, já não havia escarpa, o homem não morreu…

14 setembro 2008

escadas

Escadas lentas que subo para crescer
Descida escura que não quero alcançar


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13 setembro 2008

Do pajem para Sua Majestade

Senhora, sois prosa, sois verso, sois quem me faz sonhar.
Tendes poesia em vosso olhar.
Meu fascínio existe por ver-vos vestida de beleza.
Vestis estrelas com as quais quero viajar.
Senhora, meu atrevimento é dizer-vos estas minhas humildes palavras tão cruas e pobres, assim, desta forma. Mas sinto tão rico sentimento que posso dizer-vos que não passarei fome. Estarei sempre alimentado deste amor que não posso viver. Cada vez que vos vejo, é como se me satisfizésseis de um jejum insaciável que vivo na vossa ausência.
Novo sou para lutar em grandes frentes de batalha mas afirmo que vos acompanharei em todas as vossas diligências.
Não sei se alguma vez lereis estes meus devaneios sentindo o que sinto quando os escrevo mas, se vossos olhos reais passarem leves sobre minhas pobres linhas de amor, serei nobre desde então.
Sonho com vosso amor, Senhora.
Sonho poder um dia, receber um beijo “real”...

12 setembro 2008

O beijo

. Começando
. Início da descoberta
. Descoberta - primeira aventura
. Primeiro contacto
. Suspeita
. Diligências
. Viragem na investigação
. Finalmente as cartas
. A certeza e a dúvida
. A surpresa
. O beijo

Não é um conto, não é um romance, não é uma novela...
O beijo é uma só experiência na escrita.


(c) Auguste Rodin

Capítulo XI - O beijo

Depois de um dia sem falarem, Rodrigo comenta com os Senhores da sua partida e das suas ambições.
- É o que sempre quis. Quero tirar um curso, quero ser livre e voar. Quero sair de lá formado. Agora não há guerra e daqui por uns tempos estarei de volta para lhe agradecer tudo o que fizeram por mim.
D. Joaquim, orgulhoso de quem tinha ajudado a criar, deseja-lhe boa sorte. D. Teresa abre-lhe a porta para sempre que quiser voltar.
Na manhã das despedidas, Rodrigo toma o pequeno-almoço com Marília sentada à mesa – coisa rara.
No final do pequeno-almoço, com a sua mochila à porta da cozinha, despede-se dos Senhores, dos empregados e também amigos da quinta, da velhinha Dolores que tinha sido convidada para se despedir de Rodrigo.
Era um filho de quem todos gostavam que agora partia.
Não ia para a guerra mas iria deixá-los por alguns tempos e as saudades já apertavam.
Luciana deixou-se ficar para último e quando todos esperavam ver a despedida dos jovens, ela profere:
“Eu vou contigo até à estrada”.
Descem o jardim, passam o lago e Luciana dá a mão a Rodrigo.
Sem olharem um no outro, continuam até à estrada. Caminham juntos em silêncio sem que algum deles interrompesse o silêncio dos seus passos a pisarem as folhas caídas das árvores…
Eis que Rodrigo se enche de coragem e:
- Nem sabes o que me custa abraçar um sonho deixando outro por realizar.
Luciana acalma-o:
- Esperarei por ti.
E…

Solta-se O beijo…


11 setembro 2008

Capítulo X - A surpresa

Mais do que convencida que Rodrigo era então o autor das cartas, senta-se defronte dele ao pequeno-almoço.
Rodrigo, sem saber da descoberta de Luciana age normalmente, isto é, tentando somente demonstrar o seu amor por olhar expressivo.
Sabia que, no fundo, ela sentiria o seu olhar como prova de tanto afecto que ele tinha por ela.
Rodrigo havia recebido uma carta no dia anterior e queria que Luciana fosse a primeira a saber da novidade.
Era um sonho que tinha desde pequeno e que agora se tinha concretizado. Marília tinha perguntado a Rodrigo o propósito de tanta alegria mas este tinha feito suspense.
Tal como Luciana tinha ficado com a sua descoberta, Rodrigo também sentia uma alegria amarga com esta notícia.
Podia finalmente seguir algo que sempre quis mas isto afastaria fisicamente o jovem da sua casa e, principalmente de alguém que sempre admirou, que sempre ambicionou beijar.
Luciana decide então provocar a conversa:
- Tens algo para me dizer, Rodrigo?
- Sim. Como sabes?
- Pareces com vontade disso mas falta-te algo.
Marília percebe o clima entre os jovens e sai da cozinha sem que estes percebam.
Rodrigo, aproveitando a deixa, toma coragem e diz:
- Há algo que sempre quis que agora se pode concretizar, no entanto, tenho algum receio em fazê-lo.
Luciana fica com as bochechas em rubro por pensar que aquilo que tanto queria lhe ia acontecer.
- Alistei-me na aviação e recebi ontem a aceitação da minha candidatura. Se quiser fazer parte, poderei concretizar os meus sonhos: voar, licenciar-me, ter o céu mais perto… Mas há mais…
Luciana fica sem resposta e sai da cozinha com o maior nó da que alguma vez sentiu sem deixar que o jovem pudesse então dizer-lhe o que não tinha tido coragem até então.
Rodrigo fica perplexo.
“O que disse eu? Não ficou feliz por mim…”
Rodrigo estava agora triste por não perceber a razão de ter ficado só, a razão de Luciana não ter ficado feliz e por não ter oportunidade de dizer a Luciana o quanto gostava dela.
Luciana chorava junto ao lago enquanto Marília se aproxima de Rodrigo.
- Que lhe disseste, Rodrigo?
- Que fui aceite para me alistar em aviação e parto amanhã. Só disse à menina Luciana que tinha sido aceite e ela saiu disparada.
Marília chora de alegria por Rodrigo:
- Sempre o quiseste mas não pensei que fosse tão rápido. Estás crescido e não quero perder-te mas agora és mais do que o meu menino.
Por fim, Marília serve-se da conversa para perguntar:
- Já lhe disseste o quanto gostas dela?
Rodrigo fica rubro e admirado com a afirmação de Marília mas como sabe que ela o conhece melhor do que ninguém, simplesmente diz:
- A menina não me deu tempo. Será que está chateada comigo?
- Seu tonto, a menina gosta mais de ti do que tu imaginas.

10 setembro 2008

Capítulo IX - A certeza e a dúvida

Com novos dados para a investigação, Luciana mostra cada vez mais interesse em descobrir. Tinha ficado com a carta em mente.
“É trovadoresca!”
Para Luciana, o homem era jovem e admirava alguém que colocava acima de si, pelo menos em admiração.
Apontava agora, na sua lista, os indícios que poderia levar até ao jovem escritor.
Já pensava escrever uma história sobre este amor quando se depara com um nome capaz de ser o autor dos escritos do celeiro: Rodrigo.
“Rodrigo está apaixonado! É isso, Rodrigo está apaixonado. O tempo que passa a escrever no seu bloco quando está junto ao lado…”
Para Luciana este era um motivo tanto feliz como triste.
Feliz porque tinha cada vez mais certezas em relação ao autor das cartas.
Triste porque Rodrigo sempre tinha sido o jovem com quem gostava de namorar e agora ele estava apaixonado por uma mulher mais velha.
Se ele gosta de uma mulher mais velha, não sou eu com certeza – pensa a jovem. Mas quem será?
Um pouco desanimada por saber que, afinal, tinha descoberto o que não queria, Luciana vê agora a necessidade de descobrir a destinatária das cartas.
“Rodrigo é um jovem correcto, aplicado e educado. Marília sempre lhe passou os melhores valores. A vida dele sempre foi conseguir evoluir, sempre quis ser correcto e demonstra-o todos os dias. Porque se terá deixado levar por uma admiração amorosa por alguém mais velho?” – Escreve Luciana no seu caderno como desenvolvimento da “tese” que escrevia no estudo do caso e que mostrava um pouco de ciúme na sua questão.
Rodrigo conversava com Luciana como se de uma irmã se tratasse. Davam-se bem. Luciana gostava de Rodrigo mais do que ele pode imaginar. Aliás, mesmo que Rodrigo nunca tenho ouvido da boca dela mais do que um “sinto um carinho grande por ti”, Rodrigo sentia que Luciana só não correspondia fisicamente. Contudo, para Rodrigo isto era mais uma vontade do que propriamente uma crença.
Luciana admirava a correcção no viver de Rodrigo mas pensava que ele não gostaria assim tanto dela. Agora com as cartas tinha a certeza que não era dela que ele gostava.
Seria assim?
Numa outra carta, Luciana tinha lido que o autor respeitaria sempre a vontade de sua amada pois, alturas houve, em que Rodrigo teve de resistir a um impulso para beijar a “sua senhora” e este não o fez porque ela tinha dito:
“Aqui não.”
Luciana, começa a pensar no dia em que também ela teve de resistir à sua vontade de beijar Rodrigo mas ele estava na cave da casa a arrumar uns livros de D. Joaquim.
Luciana lembra-se que também ela tinha dito a Rodrigo que “ali não” pois queria que o momento fosse mais especial.
Então a jovem cora de pensar que gostaria de ter sido aquele o episódio relatado numa das cartas.
Sim, era a vontade dela.
Mas, se sou eu, porque me trata por senhora?

09 setembro 2008

Capítulo VIII - Finalmente as cartas

Depois de pedir permissão aos seus pais, Luciana sai para o jardim.
Desce até ao lago onde havia deixado a lanterna para ir ao celeiro. Acende-a após ter olhado à sua volta. Ninguém poderia saber que andava atrás das cartas.
Pé ante pé até ao celeiro mas sempre olhando com muita atenção para tudo o que pudesse mexer.
A dois passos de entrar, um barulho a estalar atrás do celeiro. Parou por instantes. Com medo, não sabia se devia fugir ou se havia de fingir que passeava tal como tinha dito aos seus pais.
Olhou para trás e viu Marília na porta da cozinha.
“Estará ela a observar-me?”
Não, Marília tinha vindo dar de comer a Pintas, o Dálmata da quinta.
Ainda gelada pelo susto, Luciana permanecia imóvel. Disfarça um pouco vagueando em frente ao celeiro de forma a perceber se havia alguém a observá-la ou se seria somente um barulho normal do bosque que se estendia depois do celeiro.
Não, não havia ninguém.
Tira a chave do celeiro do bolso e abre rapidamente a porta não sem antes olhar de novo em volta.
Entra no celeiro e corre até à janela.
Tinha sido só o susto e o medo de uma jovem que estava sozinha no meio da escuridão.
Dá uma volta sobre si para iluminar todo o celeiro.
“Porque te meteste nisto, Luciana?” – diz a jovem para si.
Vai até ao “local do tesouro” – como já lhe chamava – e parte decidida para a leitura.
Desata o cordel que envolve um volume de cartas e começa a ler.
Na carta que se encontra por cima, o último escrito, lê uma declaração de amor:
Senhora, meu atrevimento é dizer-vos estas minhas humildes palavras tão cruas e pobres, assim, desta forma. Mas sinto tão rico sentimento que posso dizer-vos que não passarei fome. Estarei sempre alimentado deste amor que não posso viver. Cada vez que vos vejo, é como se me satisfizésseis de um jejum insaciável que vivo na vossa ausência. (…)
Será um homem que ama uma mulher inalcançável. Trata-a por senhora, será mais velha? Será de estrato superior? Será alguém que ele não poderá ter como sua amada, certamente.
De uma coisa ficou certa, era um homem que mantinha um amor platónico por uma mulher inalcançável, aos seus olhos.
Quem será ele?

08 setembro 2008

Capítulo VII - Viragem na investigação

Três dias se passaram e nenhum movimento estranho de Vânia. Luciana começa a desistir da ideia de que seria a empregada com cara de querubim a autora das cartas de amor guardadas no celeiro.
Luciana decide investir noutro método. Começa a arranjar maneira de entrar no celeiro sem ser vista para poder ler algumas cartas.
Como uma jovem metódica e calculista, traça um plano de investida. Começa por arranjar uma lanterna para poder ir ao “local do tesouro” pela noitinha.
Estuda a melhor forma de ir sem ser vista. Não podia levantar suspeitas nem podia ser vista no celeiro pois, se fosse descoberta pelo autor das cartas, poderia perder todas as hipóteses de chegar até o mesmo.
“Não pode ser durante o dia, pois qualquer um pode lá entrar e assim serei descoberta”, “Se for de manhã bem cedinho, pode coincidir com a altura em que são guardadas ais cartas”, “Terá de ser de noite”.
Apesar de arisca, tinha algum receio de se aventurar se fosse muito tarde pois, no celeiro, não há luz e isto assustava-a.
“No final do jantar, dou uma volta pelo jardim e procuro chegar até às cartas”
Ao jantar, D. Joaquim nota uma certa inquietação na jovem e brinca com o suposto nervosismo da filha.
- Algo te preocupa, Luciana? O que te atormenta? Posso ajudar?
- Não, meu pai. Estou só um pouco ansiosa, deve ser deste calor que passa nesta altura do ano – responde Luciana.
Agora tinha a deixa certa para poder ir passear ao jardim.
- Vou dar uma volta no final do jantar para ver se apanho um pouco de ar. Diz a jovem.

04 setembro 2008

Capítulo VI - Diligências

Luciana, agora tinha o hábito de levantar-se bem cedo e montar guarda ao celeiro da janela do seu quarto.
Antes mesmo de Marília preparar o pequeno-almoço – o que era bastante difícil – Luciana estava bem acordada a ver novas movimentações.
Marília andava nas nuvens, será por causa do seu amor – pensava Luciana.
Talvez antes da refeição matinal, ela esconda os segredos que escreve dentro do celeiro – pensava a jovem.
Marília surge no jardim com um cesto no braço. Eis que Luciana se dispôs a escrever no seu caderno de apontamentos, qual detective privada.
Cada passo que Marília dava, era seguido por um olhar furtivo do alto da janela. Muitas ideias pairavam na mente de Luciana. As teorias e os possíveis amores estavam a ser apontados numa lista para serem estudados mais tarde.
Convencida que Marília era autora de tal tesouro escondido, só faltava saber quem era o destinatário e confirmá-lo.
Quando acaba a lista de possíveis amores de Marília, levanta o olhar do seu bloco de notas e repara nesta a apanhar amoras para o pequeno-almoço.
“Não posso crer que não é desta que descubro” – pensou a jovem.
Desce até à sala e fica a observar o celeiro, qual predador à espera da presa.
Entretanto, começa a eliminar alguns dos nomes que tinha numa outra lista de possíveis escritores de tais cartas.
Carlos não seria. Era um homem do campo e não sabia ler nem escrever, foi para a lista por ser um dos que entrava todos os dias no celeiro.
Deolinda, sua esposa e também trabalhadora da quinta, apesar de saber ler e escrever, tinha deixado de entrar no celeiro por razão daquele acidente que teve com a ceifeira que quase lhe tirava a vida. Esteve na lista por ser uma animadora nos serões quentes onde expunha os seus pensamentos como se fosse uma declamadora de poemas. Como escrevia bem talvez pudesse ser, mas não era.
O jovem Ricardo que estava na quinta há cerca de dois anos, também tinha figurado na lista, mas o seu recente romance com Raquel, a filha de uns vizinhos da quinta, tinha feito com que Luciana o eliminasse da lista.
Vânia, a empregada de casa, era agora a nova pessoa a investigar.
Era uma jovem muito bonita que estava na quinta há cinco anos. Tinha vindo de longe, dos arredores de Paris, onde vivia com seus pais. Filha de uma família muito pobre, veio à procura de uma oportunidade junto da avó, a velhinha Dolores que tinha o dom da fazer a melhor compota de mirtilo de que há memória.
Vânia era tímida e raramente saía de casa. Tratava dos quartos e da roupa como ninguém. Tudo ficava impecável à sua passagem. Pouco falava, mesmo com os outros empregados. Tinha sofrido muito em nova e havia confessado a Marília ter tido muita sorte em ter entrado naquela casa.
Nunca se lhe tinha conhecido um amigo ou um namorado, a sua confidente era Marília. Como só falava francês quando chegou a casa de D. Joaquim e D. Teresa, tinha-se reservado aos seus pensamentos. Apesar disso, era muito educada e todos gostavam dela.
Pensando na necessidade de afecto que Luciana dizia que todos temos, seria Vânia a autora das cartas. Estaria ali a libertação de tanto silêncio da petite fille. Estaria ela a exteriorizar todo o sentimento retido? Estaria ela apaixonado por algum jovem da aldeia que lhe havia indicado o cupido numa ida à missa ao Domingo?
“SIM, talvez seja Vânia” – sussurrou Luciana como se de um eureka se tratasse.