27 junho 2007

Fim de tarde com o meu avô...

Era novo…, quer dizer, ainda sou mas era mais novo.
Estava na praia e vi o meu avô. Deixei os meus amigos e sentei-me ao lado do meu melhor mestre. Ele ensinou-me o valor que mais defendo hoje.
Ironia ou não, sem saber ler nem escrever ele tinha o que de melhor se passa a um neto: valores. Valores são mais do que ensinar a dizer “por favor” e “obrigado”. Valores são aqueles sentimentos e ideias que defendemos sem pensar em factores ou influências. São o que são – hoje, amanhã, de dia ou de noite.
Esteve ele a ler as ondas do mar. O seu pão, a sua casa, o seu amigo… Com ele conversava. Dele tirava o melhor saber… Aquele olhar, perdido nas ondas que terminavam no horizonte. Mal me viu, sorriu… Que sorriso carinhoso do velho do mar!!!
Velho, o meu avô nunca foi…
Era um homem sem feitos memoráveis. Os que a terra conta com estátuas…
… mas também não tinha defeitos que lhe pudessem apontar. Não conheço quem dele tem algo a apontar…
Tirava a camisa do corpo para dar a um pobre. Dava o que o mar lhe tinha dado a um necessitado, pois a sua família, melhor ou pior, tinha algo para comer…
Admiro-o ainda hoje… O seu olhar… os seus valores, a sua sinceridade.
Um Homem daqueles que todos queria ter por amigo… um Homem…
Ao lado dele, disse-me: “Sabes, neto… amanhã vai estar um dia lindo, o mar disse-me na última onda”.
Nunca pensei que estaria senil… Ele sabia bem o que dizia…
Hoje, sou eu que vejo as respostas que ele me dá através das sétimas…
Pergunto ao meu avô, o mar responde…
A verdade é que aquele fim de tarde ficou gravado na minha memória.
O fim de tarde com o meu avô…

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