10 junho 2007

Pedaço de sombra


Serei eu um pedaço de sombra que se tenta descolar de um corpo…
Não sei o que sou, não sei a quem pertenço, não sei onde estou. Só sei que estou assente num conjunto de texturas, de rochas, de coisas das quais não me posso separar. Sou a contraluz de um corpo.
Serei o contrário de luz? Não, não quero ser.
Serei do tamanho do corpo que me cobre a luz? Por vezes sou maior, outras menor…
Quem sou eu afinal?
Crise existencial.
Não sei quem sou. Não sei por onde vou. Não sei qual é o meu caminho, porque não me consigo separar deste corpo. Não sou eu que escolho o caminho que percorro. Porque será?
Será que não tenho voz para fazê-lo? Será que não tenho como enfrentar o corpo que me leva?
Afinal o que sou. Um pedaço de sombra… Não, sou uma sombra completa. Serei? Afinal vou moldar-me. Melhor, alguém me vai moldar…
Sou de onde? Não sei.
Ah, já sei. Sou da China. Ouvi falar das da China. Serei uma sombra chinesa?
Serei eu, um pedaço de contraluz, moldado por um corpo como uma qualquer sombra chinesa?
Não, penso que não.
A que corpo pertenço? Que alma me detém?
Tantas dúvidas e uma certeza – sou um ser sem luz, porque a minha própria sombra é um corpo que me cobre dela.
De dia estou deitado. À noite, junto ao meu corpo.
Estou onde? Sempre atrás do meu corpo.
Mais uma premissa que quero derrubar: Atrás de um grande homem está… uma grande sombra.
Sou uma sombra grande, mas quero ser uma grande sombra, porque uma pequena me disse um dia que eu iria ser…

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