Livros… para oferecer?
Se compramos uma camisola, umas calças, um cachecol… na loja, dizem-nos o preço, entregam-nos o saco, dão-nos o recibo, “Muito obrigado” e pronto.
Se entrarmos num café e pedir-mos dois descafeinados mesmo estando sozinhos, não nos perguntam se o outro é para oferecer. Se pedimos dois sumos, devem pensar que temos muita sede ou virá alguém ter connosco.
Quando compramos um livro, é habitual perguntarem: “É para oferecer?”
Por que será?
Concordo que um livro é sempre um bom presente.
Para quem lê: um bom companheiro, para quem não lê, começando pelo livro certo, poderá ser a rampa de lançamento para o mundo fantástico da leitura / literatura.
Para mim, um livro é um bem tão essencial como a roupa. Podia dissertar sobre a necessidade da literatura, sobre o auxílio à cultura de cada um, para o enriquecimento do conhecimento e do vocabulário, podia falar sobre a necessidade bibliófila de ler ou de ter um livro, podia falar das histórias mais ou menos fantásticas, mais ou menos reais que nos prendem enquanto temos um livro na mesa-de-cabeceira. Mas não, escrevo simplesmente que, para mim, o livro é um bem essencial.
Vejamos, trabalho com livros: dá-me prazer, salário, etc.; leio um livro: tenho uma história, posso ter uma experiência, posso sentir-me (ou não) ligado àquela história ou a uma personagem presente; não sei o que hei-de oferecer porque o meu amigo não gosta de roupa vermelha, não sei o tamanho que veste, não conheço os gostos clubistas, enfim, se eu escolher um bom livro, gostará com certeza.
Será que a pergunta quase inevitável nalgumas livrarias “É para oferecer?” é resultado de um país como o meu?
Será que, por estarmos habituados a estudos e mais estudos que nos vendem a dizer que o meu país lê pouco, isso nos influencia de tal forma que quando vemos alguém comprar um livro, pensamos que não é um bem para o mesmo consumir mas antes um bem para oferecer?
Quando comprar um livro e me perguntarem se é para oferecer, vou responder:
“Não, é para consumir.”
O que me interessa realmente é que consumam, usem, ofereçam, sirvam como companhia, durmam com eles no pensamento, mas… leiam livros.



